18.8.06

Estava eu sozinha em casa, sem nada para fazer e me peguei pensando em como não há coisa alguma que persista em todo o universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa como um movimento contínuo, como um rio... o que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite... não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida?Com efeito, a primavera, quando surge, é semelhante à criança nova... a planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra, então a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem. Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego cujos cabelos caíram como as folhas das árvores, ou os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso. E também a Natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados... todos os seres têm origem noutros seres.Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói o ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, nasce uma pequena fênix, que viverá outros cinco séculos... assim também é a Natureza e tudo que nela existe e persiste.

OBS: Ninguém precisa ler essa observação, mas se alguém insistir, digo, mesmo sem ter vontade, que tudo isso aí em cima é obra do filósofo Ovídio retirado do seu livro "As metamorfoses". Como é que eu não pensei nisso antes?