17.10.07

somos todos iguais, braços dados ou não

Nesse feriado fui com a minha família para uma cidadezinha chamada Primavera. Nome bonito de uma pequena cidade com duas ruas principais, casinhas muito antigas de cada lado cercadas por montanhas. Na viagem de ida eu fiquei ouvindo pink floyd enquanto observava a paisagem. De vez em quando um acampamento do MST me lembrava do décimo encontro dos sem terrinha ocorrido no Recife nos dias 10 e 11 de outubro (dias antes da minha viagem). Chegando na cidade comecei a perceber a pobreza que "prejudicava" a beleza que essa cidade tinha tudo para ter, mas não tinha. O rio poluído, as ruas sujas, as casinhas velhas. E as montanhas que cercavam a cidade cheias de plantação de cana. Só cana. Mais tarde saí para tomar um sorvete e percebi um pó preto nas cadeiras da pequena casinha que tinha um freezer com sorvetes de vários sabores (mas que se me dissessem que todos aqueles sabores era um só, eu acreditaria). Meu tio pediu para a atendente limpar a cadeira e ela disse "aqui é o tempo todo assim, a gente limpando e o carvão sujando". Quando perguntamos de onde vinha aquele carvão, a resposta: "da usina". Meu tio, funcionário do Bando do Nordeste que é, começou a falar de agricultura familiar, que os trabalhadores plantavam cana em suas pequenas propriedades e que depois, unidos, negociavam o preço com a usina. Mas a mesma, para não ficar nas mãos dos agricultores, reservava capital para plantar uma parte da cana necessária para fazer o açúcar. Então a atendente da sorveteria logo cortou o barato dele "tudo isso aqui é da usina" (isso não significa que o programa de agricultura familiar não funcione). De noite fiquei pensando, matutando, filosofando. Me lembrei dos sem terrinha e do que um amigo meu me disse quando eu falei do encontro deles: "isso se cria, é?". Sim, isso se cria. E a desigualdade tão cruel também se cria. E a indiferença, pior ainda, se cria e se multiplica feito erva daninha. Uma amiga minha disse que detesta os sem terra porque uma vez jogaram uma pedra no carro do irmão dela. Não tiro sua razão, não defendo os sem terra. Muito menos condeno. Mas digo que gente que não presta tem em todo lugar. Tem até na minha família! O que eu condeno é a ignorância, a gente fala mal sem nem saber o que acontece a nossa volta. Assisti um documentário também sobre os sem terra, o qual mostrava uma caminhada que eles estavam fazendo em Brasília e uma distinta senhora saía de dentro do seu carrinho e, indignada, falava que aqueles desocupados atrapalhavam quem ia trabalhar. Ora, por que eles não trabalham? Por que não querem? Talvez ela não queira negar a dignidade deles e sim tirar a responsabilidade de si. É tão fácil criticar quando temos nosso carrinho para nos levar ao nosso trabalhinho. Também é fácil escrever tudo isso o que eu estou dizendo. Fácil até demais. Difícil é tomar uma atitude. Mas pelo menos eu não falo mal do que não conheço.
Ah, e mesmo que algumas pessoas achem a idéia desprezível, somos realmente todos iguais, braços dados ou não.

3 Comments:

Blogger La Luna said...

estamos num processo de evolução viu!
nosso blog tá virando coisa de gente grande!
Me emocionei muito ao ler seu post, minha querida amiga!
:)
parabéns viu!
te amo e tô com saudades!
e claro que somos todos iguais, braços dados ou não!
:D

12:50 PM  
Blogger Yolanda Oliveira said...

Sim, nosso blog tá virando coisa de gente grande :)

Puxa vida, e vcs viram a galera que tava criticando L. Huck pelo artigo que ele escreveu, qd foi assaltado?
Zeca baleiro (que eu adoro) teve a ousadia de dizer que 'as elites brasileiras só se preocupam qd têm o rolex roubado'
É mt hipocrisia, viu! achando ou ñ, L.H. mauricinho, ng deveria passar (ou dizer isso): dá a entender que o bandido tava mesmo certo, rico é p/ ser roubado.
Por isso que o Brasil continua desse jeito.
Apologia ao crime.

11:55 AM  
Blogger Yolanda Oliveira said...

a, e vc escreveu maravilhosamente, Mulinha :)
Sabida pra burro!
hahhahaaha
[saudades grandes!]

12:31 PM  

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